sábado, 27 de junho de 2015

HOMENAGEM AO AMIGO - CARLOS SEPULVEDA O PERIGO DA INTOLERÂNCIA

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Carlos Sepúlveda
O PERIGO DA INTOLERÂNCIA.

Não bastam os exemplos de intolerância racial nos Estados Unidos ou a intolerância social contra as centenas de milhares de refugiados na Europa, cujo sonho é quase um direito: eles querem tornar-se imigrantes humanizados.
       Desgraçadamente, desde a queda o muro de Berlim, símbolo do fim das utopias, parece não haver mais o menor pudor em se declarar reacionário e assumir as mais nocivas pautas com que se mortificam as minorias. A direita fascista ( não é um oximoro) não costuma perdoar.
       Uma das razões para o fenômeno é que tem havido um deslocamento radical entre os preceitos da tolerância e o exercício infame do conservadorismo radical e feroz.
       Estas constatações não são ignoradas por ninguém que tenha estudado o mundo no século XX. O maior símbolo do século foi o Estado Nazifascista, verdadeiro império da violência, momento em que a civilizada Europa escreveu sua História da Infâmia.
       E assim seguimos, desde então, a sugerir políticas segregacionistas mais ou menos disfarçadas. Houve momentos, como o fim da Segunda Guerra, por força do testemunho do extermínio de judeus e outras etnias, em que um leve e tênue rubor aparecia no rosto de um ou outro cidadão ao referir-se ao fato, No entanto, como demonstram certos filmes e romances, houve quem dissesse, em alto e bom som, de Praga a Paris,  que “ aqueles judeus imundos não precisavam voltar para  casa”.
       É que, no fundo, a vergonha pela tragédia foi antes expressa pela geração que não fez a guerra, e não pelos velhos combatentes sem qualquer glória, que não só fizeram a guerra como também patrocinaram as carnificinas..
       É hoje muito difícil, se o leitor vive naqueles países que praticaram a banalidade do mal, ver alguém sinceramente magoado com sua própria história. A lei do silêncio funcionou adequadamente. Raros foram os intelectuais, como Sarte, por exemplo, que ousaram contestar a hipocrisia de quem pretendeu fazer do esquecimento uma bandeira patriótica.
       Em meio a este contraste, o Brasil conseguiu se tornar um país com fama de tolerante, em parte graças ao arco-íris multicultural com que aprendemos a conviver.
       No entanto, ao estimar as manifestações de rua e, sobretudo, as ofensas nas redes sociais, nossa tolerância não passou de um ralo perfume de humanidade.
       Estamos assistindo a um vergonhoso espetáculo de exclusões, de violência simbólica e, até mesmo, de intolerância religiosa, como foi recentemente divulgado pela mídia.
       Quem se dedica ao estudo dessas manifestações já vem dizendo que nossa tolerância só acontece entre iguais, entre os que coabitam a mesma classe social. Na língua do povo, continuamos a afirmar que “ manda quem pode e obedece quem tem juízo”, “quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré”, “eles que são brancos que se entendam”, etc. Acredito que se possa editar um pequeno manual de sobrevivência para uma sociedade intolerante.
       As últimas eleições, infelizmente, despertaram o monstro da violência entre irmãos. A disputa PT x PSDB é hoje o paradigma da intolerância que pode custar muito ao país.
       Não vamos sair dessa crise sem a tolerância e a capacidade de superar interesses menores e reconquistar a Utopia que Lula declarou faltar ao PT.
       Não posso avaliar os níveis de sinceridade de suas recentes declarações, mas posso fazer coro com os que se sentiram aliviados com elas, na medida em que soam como uma trégua.
       Quem sabe?

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