UMA ENCÍCLICA ESPERADA
Desde o início do seu pontificado, o Papa Francisco tem se manifestado, com frequência, sobre o meio ambiente e sobre a responsabilidade do homem diante da criação, sempre com franqueza e com clareza. As mensagens vieram em homilias, encontros com jornalistas e em diversos documentos nos quais o Pontífice exprimiu o seu ponto de vista sobre estes temas. Faltava um texto mais orgânico e definitivo.
É o que acontece com a encíclica “Laudato Si ( seja louvado), Nos Cuidados de Nosso Lar Comum”.
O simples anúncio de que Francisco estava produzindo um documento de tanta importância deixou a mundo suspenso em curiosidade. Uma curiosidade para além do mero anúncio, pois se trata de um tema delicado, entregue, a maior parte das vezes, aos cientistas e militantes da ecologia. De modo geral, o tema vem sendo tratado setorialmente com uma linguagem restrita aos especialistas, longe,portanto, da compreensão da opinião pública mundial.
Com esta iniciativa, já esperada, o Papa faz uso de sua autoridade moral e intelectual para tratar do tema como se fosse uma Suma Ecológica, relacionando todos os aspectos envolvidos, desde os consensos da ciência até as conseguências éticas envolvendo um ator que quase sempre se releva para segundo plano: o homem. Não por acaso, o único ator que pode se pronunciar sobre o assunto.
Parece incrível que, durante todos esses anos desde que o tema foi posto publicamente, a condição humana fica em segundo plano, como uma testemunha de uma tragédia anunciada. Fizeram do tema um fatalidade em nome dos lucros e da ganância desenfreada.
Evidentemente, depois de tantas manifestações sobre as graves questões que impactam a vida do homem neste planeta, já existe, ainda que nebulosa, uma consciência ecológica que nos fala de um planeta como se ele fosse uma casa comum a todos nós. A morada planetária parece fragilizada pela falta de cuidado o que põe em risco escatológico a humanidade atual.
Mas esta consciência ecológica esteve dispersa, em diferentes foros de debate e, não raro, os debates são de tal maneira apaixonados que paralisam os atores que já não se sentem capazes de sustentar uma tese efetivamente realista.
Agora não. Temos um Papa atuante, corajoso, com legitimidade para fazer do mundo um grande auditório capaz de ouvi-lo, respeitosamente.
O Papa Francisco é um Papa que fala para “urbi et orbi”, com um destemor que há muito tempo não se via. Um destemor sem desespero e muita esperança.
Não por acaso, esta encíclica é uma das mais amplas que já se escreveram. Sua meta, já atingida, é colocar o problema numa outra dimensão. Uma dimensão universal, aberta a todos os atores. Será um discurso universal em busca de um lugar onde todos serão chamados para o grande e definitivo debate.
O Papa Francisco é o único líder mundial com esta legitimidade. Devemos celebrar este acontecimento como um dos mais importantes do século.