sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

UM ANO DIFÍCIL - CARLOS SEPÚLVEDA

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Carlos Sepúlveda
UM ANO DIFÍCIL.
O ano de 2014 teve um único mês, distribuído pelos 11 outros. Foi um ano em que Deus se esqueceu de ser brasileiro. Agosto é o período que cobre os 365 dias de pura iconoclastia..
Dois símbolos fortes da nacionalidade foram conspurcados e viraram pó: a Petrobrás e o Futebol Brasileiro.
No primeiro caso, nosso orgulho nacional, símbolo de nossa capacidade técnica e administrativa— a Petrobrás — , foi tomado de assalto por vândalos de terno e gravata que desviaram, até a data em que estas mal traçadas são escritas, algo em torno de 80 bilhões de reais.
A empresa costumava ser citada como padrão internacional de competência. Praticamente, seus engenheiros e pesquisadores, reinventaram a prospecção do petróleo e conseguiram ir a profundidades inimagináveis, desafiando a biologia, a fisiologia, a gravidade e tudo mais.
Assim como nossos descobridores portugueses inventaram o oceano atlântico, nós inventamos o fundo do mar, a Amazônia Azul, do qual retiraríamos nossa independência do petróleo e entraríamos no seleto clube da OPEP.
A proeza da Petrobrás se compara, com a devida modéstia, às proezas da NASA na conquista de Lua. Conseguimos mostrar ao mundo que era possível gerar conhecimento sofisticado sem nada a dever à tecnologia do resto do mundo, incluindo oriente e ocidente.
A Petrobrás reinou absoluta no coração orgulhoso dos brasileiros. Um presidente da República suicidou-se para, entre ouras razões, garantir a autonomia da empresa.
No entanto, a Petrobrás não foi capaz de ser defendida por gente de dentro, porque é difícil supor que tal volume de dinheiro corrompido pudesse transitar com desenvoltura pelos corredores da empresa. Não posso acreditar que lá não tivesse uma rádio corredor capaz de murmurar, ainda que timidamente, a famosa frase: “tem gente roubando”. Mas o silêncio imperou. O silêncio e o medo, desafiado, apenas,por uma mulher, corajosa, que denunciou a prática, depois de sofrer ameaças de toda ordem.
Presentemente, estamos tristes e desiludidos com o exercício fatal da destruição de nossos mitos e, por tabela, de nossa nacionalidade.
Para completar, o Brasil sofreu aquela derrota terrível, de 7 a 1, para a Alemanha e, com isso, decretou o fim da última ilusão, agora perdida.
A seleção afundou na mediocridade e na corrupção afetiva, não foi capaz de ser, sequer, um time. Foi um bando aparvalhado, apanhado em flagrante delito, como quem rouba fruta em pomar alheio.
O sentimento que nos cobre de vergonha dificilmente se apagará de nossa memória. Só mesmo a vozinha distante de Nelson Rodrigues, vociferando, “ é nosso complexo de vira lata”.

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