Carlos Sepúlveda
AINDA NÃO SE PODE VER O FIM DO TÚNEL
Os meses que se seguiram à eleição da presidenta Dilma ainda são perturbadores e nada indica que deixarão de ser, em curto prazo.
Ninguém duvida do perfil conservador de seu ministério. Quer dizer, da área que importa em seu ministério. Refiro-me à economia cujo protagonismo ninguém põe em dúvida.
Houve, no caso, uma inversão da pauta ideológica, pois a bête noire do petismo, o glorioso neoliberalismo, é aplicado, disciplinadamente, pelo ministro Lévv et caterva.
Não deixa de ser espantoso o cinismo do governo quando defende, sem o mínimo e necessário rubor nas faces, todas as práticas, antes“nefastas,” que hoje adota, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Claro que não há nada mais edificante do que um revisionismo, desde que seja por convicção e por responsabilidade. Já Weber, quando apontava o dilema entre convicção e responsabilidade, fundando as duas éticas, desnudava o que seria um dos mais duros dilemas das sociedades avançadas. Assim como apontou o desencanto como a marca das comunidades modernas, Weber previu um imenso desencanto a desconstruir a política. O tempo só lhe fez justiça, os Estados se tornaram tecnocráticos e o político se reduziu a uma espécie de folclore, misturando cafonice e malandragem.
Bingo: acertou na mosca. Nunca antes no mundo contemporâneo e nas sociedades tecnológicas de massa o político e a política seriam atividades tão desprezadas. Não seríamos nós a contrariar a teoria. No Brasil, também o espetáculo se repete.
Marx escreveu que a história se repete como farsa, provavelmente não reparou que a farsa também se repete, como história. É esse o caso do PT, Dilma e Lula..
Até aí, nada demais. Um governo pode ser eleito e verificar, com humilde generosidade, que sua plataforma, apesar de vitoriosa nas urnas, foi superada por Sua Excelência, os fatos.
Mas não é bem assim, no revisionismo oportunista do PT e da presidenta.
Na verdade, nenhum dos seus ministros, pelo menos na área econômica, acredita na receita que estão sendo empregadas. No fundo, os petistas desprezam “ esses neoliberais de olhos azuis e dentes brancos”. Dentro do pragmatismo pela sobrevivência, aplicam, sem pudor, todas as receitas da “ herança maldita”.
Claro que, se der errado, farão novo revisionismo, apontarão culpados nas elites e dirão que o ajuste não deu certo, porque a comunidade internacional não deixou. Logo,.a culpa será dos outros, sobretudo dos malditos burgueses.
No entanto, se funcionar, eles dirão que o PT expurgou o que havia de nocivo e equivocado na metodologia, purificando o ambiente. De mesmo modo que a ética foi inventada pelo PT, que prendeu os seus corruptos e dos outros, nós, idiotas midiáticos, temos de aprender que só o PT poderia reinventar a ética. O Partido dos Trabalhadores tem um destino manifesto, descoberto nas prisões, nas mortes e torturas que seus fundadores sofreram.
Desenvolveram a ideia de que o Partido, depois do batismo das ruas e das masmorras, ninguém mais pode duvidar ou questionar suas intenções.
Portanto, ao re-eleger a presidenta Dilma, mentindo descaradamente, o Partido exerce o direito de autoindulgência. Aliás, perdoar-se é um ato de contrição necessário a uma nova vida, um novo começo.. O PT não precisa de nada disso; afinal, Deus não erra.
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